Artroplastia do Quadril
Conheça abaixo um breve resumo da história da cirurgia de Artroplastia do Quadril
Conheça abaixo um breve resumo da história da cirurgia de Artroplastia do Quadril
As fraturas do colo do fêmur, antes do advento das próteses de quadril, eram tratadas com tração em férulas de Braun ou em gesso pelvipodálico. Nesta época, os pacientes, em sua maioria, morriam na cama ou ficavam incapacitados para caminhar.
Durante a tentativa de mudar o tratamento para essas fraturas e melhorar o prognóstico, ou seja, a qualidade de vida e expectativa de vida do paciente, foi desenvolvida uma das primeiras próteses de quadril, que era a prótese acrílica dos irmãos Judet. No entanto, esta técnica teve maus resultados e mostrou-se ineficaz no longo prazo. Tentou-se modificar um pouco o desenho das próteses de Judet, entortando a haste metálica que era inserida dentro do fêmur e se apoiava na parede interna da cortical lateral do fêmur. Este pequeno avanço reduziu a mortalidade do tratamento das fraturas do colo do fêmur e permitiu que alguns pudessem voltar a caminhar.
Foi então que surgiram as próteses de Moore e de Thompson. Estas próteses eram constituídas de um único implante em monobloco formado por uma haste metálica em continuidade com uma cabeça metálica. A haste era introduzida dentro do canal femoral e a cabeça se articulava diretamente com a cartilagem e o osso acetabular. Era uma prótese eficiente para o tratamento das fraturas do colo do fêmur, mas não era boa para pacientes com alta demanda funcional, ou seja, aqueles que deambulavam fora de sua casa, faziam esporte ou ainda trabalhavam. Com o tempo, estas próteses provocam a erosão do acetábulo e isso pode causar dor e incapacidade para caminhar.
Algum tempo depois surgiram as próteses de Charnley e McKee-Farrar, que eram constituídas por uma haste femoral metálica usinada e um componente acetabular metálico ou de plástico (polietileno). John Charnley foi um ortopedista da Inglaterra que teve um papel muito importante para o desenvolvimento das modernas próteses de quadril. Em suas primeiras tentativas, teve insucesso ao tentar utilizar as taças acetabulares feitas com material Teflon ( isso mesmo, o material que reveste as panelas para torná-las menos aderentes ). Acreditava-se que o teflon, por sua característica antiaderente, poderia reduzir o desgaste da prótese e elevar a sua durabilidade. No entanto, no longo prazo o uso deste material levou a péssimos resultados. Charnley começou a ter sucesso em seu tratamento quando iniciou o uso de uma prótese que era constituída por uma haste metálica lisa e usinada, fundida a uma cabeça metálica pequena que se articulava com uma taça acetabular de plástico (polietileno de alto peso molecular). A haste era introduzida dentro do canal femoral e fixada com cimento ortopédico (polimetilmetacrilato). A taça acetabular era fixada ao acetábulo com polimetilmetacrilato. Esta nova prótese revolucionou o tratamento das artrose do quadril e das artroplastia para tratamento de fraturas do quadril, pois permitiu que este implante tivesse durabilidade superior a 10 anos, o que reduziu a mortalidade e elevou a qualidade de vida dos pacientes.
No entanto, existia uma complicação até então desconhecida, que fazia com que algumas dessas hastes femorais se soltassem do fêmur do paciente. Inicialmente os cirurgiões atribuíram a culpa ao cimento ortopédico, pois eles acreditavam que o cimento estava causando algum tipo de osteólise (lesão no osso) que levava à soltura do componente femoral. Por causa disso, outros cirurgiões começaram a defender o uso de próteses não cimentadas e desenvolvê-las em seus laboratórios e oficinas. Porém, os resultados mostravam que as hastes femorais não-cimentadas soltavam-se do fêmur com mais facilidades do que as cimentadas. Por outro lado, as taças acetabulares cimentadas soltavam-se com mais facilidade do que as não-cimentadas. Foi então que surgiu a estratégia de realizar a prótese híbrida, ou seja, implantar a haste femoral cimentada e a taça acetabular não-cimentada. Isso aumentou bastante a vida útil dos implantes e reduziu o risco de soltura precoce dos componentes da prótese de quadril. Após vários estudos, os cirurgiões de quadril descobriram que a culpa pela soltura das hastes femorais cimentadas não era do cimento ortopédico, mas de uma reação do próprio organismo contra os debris(detritos) que surgiam por causa do desgaste do componente de polietileno. Estes debris estimulavam as células do sistema imunológico a fagocitar estes elementos que ficavam alojados na interface entre o cimento ortopédico e o osso. Consequentemente, os macrófagos fagocitavam (“comiam”) uma parte do osso “por engano” e isto levava à soltura do implante femoral. Após o desenvolvimento de polietilenos modernos como os cross-linked o número de complicações por soltura da haste femoral baixou muito.
Com a evolução tecnológica e o desenho de novas hastes femorais e novas taças acetabulares, hoje os cirurgiões encontram uma grande variedade de implantes, com diversas utilidades e indicações para cada caso clínico. As próteses totais não-cimentadas hoje têm risco de soltura muito menores do que os primeiros modelos. E a prótese cimentada ainda é bastante utilizada em muitos serviços com a durabilidade também muito elevada. Existem próteses específicas para o tratamento de luxações recorrentes de prótese de quadril ( próteses de dupla mobilidade ), para cirurgias de revisão de prótese em que existem grandes defeitos do canal femoral ( próteses de fixação distal ) ou do acetábulo ( taças gigantes, taças multifuros, cunhas acetabulares). Já estão em desenvolvimentos próteses personalizadas, ou seja, próteses com tamanho projetado especificamente para determinado paciente. Foram desenvolvidas próteses não convencionais para o tratamento de pacientes oncológicos que necessitam de grandes ressecções articulares, como a da articulação do quadril. Também está em desenvolvimento a artroplastia robótica e a artroplastia orientada espacialmente por computador ( para definir o melhor posicionamento dos implantes ).
Como podemos notar, a cirurgia de artroplastia do quadril passou por uma grande revolução no último século e ainda há o que melhorar, sempre pensando em dar ao paciente uma qualidade de vida sem dor, a possibilidade de exercer sua autonomia e caminhar para onde for de seu interesse, bem como desempenhar suas atividades laborais e cotidianas. Assista o vídeo abaixo que mostra um exemplo em 3d de uma artroplastia do quadril.